ESCOLHA DO AQUÁRIO
Antes de adquirir ou construir o aquário,
devemos informarmo-nos pormenorizadamente sobre as espécies que
pretendemos manter, quer por consulta de literatura
especializada (livros e revistas) ou ainda contactando
Aquariofilistas com experiência. É importante conhecer o
comportamento das espécies, a alimentação, a qualidade da água,
o modo como se reproduzem e as dimensões que atingem no estado
adulto.
Algumas destas características vão
determinar o tamanho do aquário. Mesmo que se opte por peixes de
pequenas dimensões, o aquário nunca deve ter um volume inferior
a 40 litros de água. Tamanhos mais pequenos causam problemas de
sobrevivência e saúde a qualquer ser vivo aquático.
DECORAÇÃO DO AQUÁRIO
Os elementos decorativos do aquário, além
da sua função estética, servem de suporte para as bactérias
responsáveis pela filtração biológica, assim como para outros
organismos (algas, invertebrados, crustáceos e peixes), tanto de
água doce, como de água saldada. São ainda locais de refúgio ou
de postura.
Por todos estes factores, a decoração
deverá ser escolhida de acordo com as características das
espécies, respeitando, se possível, a zona geográfica da sua
origem. Para alguns peixes territoriais (certos Ciclídeos) a
decoração torna-se mesmo vital.
Os materiais naturais mais utilizados na
decoração dos aquários são:
O areão, a areia, as rochas, os troncos,
as raízes, os corais, as conchas e as gorgónias.
O SOLO
O solo, além do aspecto decorativo,
assegura a estabilidade das rochas, serve geralmente de filtro
mecânico e biológico, fornece às plantas, em primeiro lugar um
suporte de fixação e em seguida, o terreno do qual podem retirar
uma parte do alimento.
Os materiais geralmente utilizados são a
areia e o areão, com 4 a 5 mm de espessura. Devem ser escolhidos
de acordo com a qualidade da água que pretendemos ter. Nos
aquários de água doce não devemos utilizar areões que tenham
materiais calcários. Se houver dúvidas, deve-se fazer o teste do
ácido clorídrico (se fizer efervescência é calcário). Os areões
conquíferos e os de coral são aconselhados nos aquários de água
salgada, pois contribuem para a manutenção do pH.
AS ROCHAS DECORATIVAS
As rochas, além de embelezarem o
aquário, são de grande utilidade para os Aquariofilistas, visto
que com elas se podem esconder as resistências, os elevadores,
as pedras difusoras e outros materiais que permitem ao aquário
funcionar, mas que são pouco estéticos.
Os aquários de água doce podem
decorar-se com rochas vulcânicas, granitos e xistos. As pedras
muito coloridas devem evitar-se, pois podem conter meçais
pesados, prejudiciais para os peixes.
Nos aquários de água salgada devemos
usar rochas vulcânicas, calcáreas, corais e gorgónias (estas
devem ser bem lavadas depois de permanecerem mergulhadas em água
salgada durante duas a três semanas).
TRONCOS E RAÍZES
Os troncos e as raízes são utilizados
na decoração dos aquários de água doce, permitindo obter efeitos
decorativos interessantes.
Devem usar-se os troncos fósseis, que
já estão mineralizados, o que evita que se decomponham. Os
troncos de outra origem devem ser bem fervidos e envelhecidos,
para o que se submergem em água durante algumas semanas ou meses
antes de serem introduzidos no aquário. Aconselham-se troncos e
raízes de salgueiro.
— Aquário decorado com troncos
FILTRAÇÃO
Para manter a água dos aquários em
boas condições, recorremos a vários tipos de filtração.
Filtração mecânica — Tem por
finalidade eliminar as partículas em suspensão.
Filtração biológica — Degrada a
matéria orgânica excretada pêlos peixes e a proveniente de
restos de alimentação não consumida, em compostos minerais.
Estas transformações são efectuadas por várias espécies de
bactérias, que se instalam na superfície do material filtrante.
Filtração química — Retira as
substâncias dissolvidas na água, retendo-as por interacção
físico-química do soluto com o absorvente.
Baseia-se na absorção química e na troca de iões.
Utiliza materiais absorventes, como o
carvão activado, e substâncias troca-iões naturais (zeolites e
argilas) e sintéticas (resinas aniónias e catiónicas).
Técnicas complementares de
filtração — Ultravioletas. Escumador. Filtro de algas.
Dos métodos descritos, os mais
utilizados em aquariologia são a filtração biológica, que impede
a acumulação de produtos tóxicos dissolvidos tais como: a amónia
e os nítricos e a filtração mecânica que retira as suspensões
permitindo-nos obter uma água mais transparente. Estas duas
filtrações podem ser realizadas no mesmo filtro ou em filtros
separados.
Os filtros devem permitir as seguintes
funções:
1 — Eliminar os materiais em
suspensão.
2 — Fornecer os substratos para as
bactérias.
3 — Contribuir para a regularização do
pH.
4 — Eliminar substâncias orgânicas que
não são degradadas pelas bactérias.
5 — No caso dos filtros de algas,
permitir que as substâncias minerais, tais como os nitratos
sejam absorvidas pelas plantas.
DESCRIÇÃO DE ALGUNS FILTROS
1 — FILTRO DE FUNDO
Utiliza o solo do aquário como
substrato filtrante. Coloca-se no fundo do aquário uma placa
perfurada (coberta por uma camada de areão) ligada a um
elevador, que por intermédio de ar comprimido ou de uma bomba
faz a água circular através do material filtrante, que serve de
suporte para as bactérias e retém as suspensões, funcionando
como filtro biológico e mecânico.
Nestes filtros a água pode circular de
cima para baixo ou no sentido inverso.
— Filtro de fundo
2 — FILTRO EXTERIOR DE TIPO HORIZONTAL
Estes filtros são geralmente ao lado o
aquário e comunicam com ele por um sifão. A agua atravessa as
camadas filtrantes (lã acrílica, esponja, areão, carvão
activado, etc) e é em seguida levada para o aquário por meio de
1 elevador. A primeira camada de material filtrante deve ser
regularmente lavada ou substituída.
— Filtro exterior de tipo horizontal
3 — FILTRO EXTERIOR DE TIPO
VERTICAL
Este filtro fica geralmente
incorporado no próprio aquário. Utiliza blocos de esponja
colocados verticalmente, fixos por calhas laterais, de modo a
dividir o compartimento em três partes. No exemplo da figura, a
água entra nos compartimentos laterais por um orifício ou vários
pequenos orifícios, feitos ao fundo da parede de separação do
filtro com o aquário. Estes compartimentos funcionam como
decantação. Em seguida a água atravessa as esponjas e entra
filtrada na parte central, de onde é levada para o aquário por
meio de um elevador ou de uma bomba.
Notas: Quando se usam esponjas nos
filtros, não devem ser todas lavadas no mesmo dia, porque, além
da filtração mecânica que efectuam, também realizam, ao fim de
um determinado tempo, uma filtração biológica, que se interrompe
pela lavagem.
As esponjas devem ser de qualidade
alimentar, caso contrário, terão de ser envelhecidas em águas
que serão rejeitadas.
4 — FILTRO GOTA A GOTA OU FILTRO
SECO
Este filtro tem esta designação por não
ficar cheio de água.
A água, caindo em chuveiro por cima do filtro, atravessa o
material filtrante por gravidade e vai cair directamente no
aquário, ou num tanque de recolha, sendo neste caso elevada por
intermédio de uma bomba, para o aquário.
Como material filtrante utiliza-se, lã
acrílica, esponjas, areão, e materiais plásticos.
— Filtro seco
5 —
FILTRO DE CAMADAS
Neste
filtro, de tipo horizontal, a água atravessa camadas sucessivas
de material filtrante de diferente natureza e granulometria. A
camada superficial, geralmente de areia fina, é regularmente
substituída ou lavada, para evitar a sua colmatação.
— Filtro de camadas
Este
filtro apresenta uma vantagem importante pois permite manter
intactos nas camadas inferiores do material filtrante, os
microrganismos responsáveis pela filtração, favorecendo assim
uma rápida colonização da camada superficial da areia, sempre
que esta for renovada.
TÉCNICAS
COMPLEMENTARES DE TRATAMENTO DE ÁGUA
1 — ESCUMADOR
Funciona
corno filtro complementar, contribuindo para a melhoria da
qualidade da água. Deve ser colocado dentro do aquário ou antes
do filtro biológico.
O princípio básico de
funcionamento do escumador consiste em fazer borbulhar a água,
numa coluna vertical (geralmente um tubo de PVC), com a ajuda de
um difusor ou de uma turbina. Consegue-se assim produzir espuma,
mais abundante em água salgada, que
irá arrastar, por absorção física, substâncias no estado
coloidal, em especial matéria orgânica.
Para
melhor rendimento, aconselha-se a utilização de pedras difusoras
que produzam bolhas de ar muito finas (pedras de cerâmica ou
madeira). Os escumadores que funcionam com turbinas eléctricas
utilizam-se em aquários de maiores dimensões.
Este
processo de filtração tem como inconveniente a eliminação de
alguns oligoelementos, pelo que é importante fazer mudanças
periódicas de uma parte da água, ou usar o sistema gota a gota.
— Escumador
2 —
ULTRAVIOLETAS
A
utilização de lâmpadas ultravioletas nos aquários, para
esterilização parcial da água é cada vez mais frequente, uma vez
que através deste processo é possível limitar a proliferação de
microrganismos indesejáveis, graças ao poder germicida dos raios
U. V..
O
princípio destes aparelhos consiste em fazer circular a água, em
camada fina, à volta do tubo de U. V., fechado numa manga de
vidro (ou outro material impermeável a estas radiações) que
possui uma entrada de água numa extremidade e uma saída na
outra.
A
potência da lâmpada deve ser adaptada ao volume de água a
esterilizar e ao débito circulante à volta do tubo de U. V..
Ex: Para
aquários de 500 a 700 l, usar um tubo de 15 W, com débito
inferior a 200 l/h.
As
lâmpadas devem ser substituídas ao fim de 4000 a 5000 horas de
uso contínuo, dado que vão perdendo o poder germicida.
O
sistema de U.V. e o filtro do aquário devem estar ligados,
funcionando simultaneamente, devendo a água passar em primeiro
lugar pelos filtros, e em seguida pelos U. V., antes de entrar
no aquário.
As
lâmpadas devem colocar-se verticalmente, o que impede a formação
de bolsas de ar e evita que se depositem impurezas sobre as
lâmpadas, o que reduziria a eficácia das radiações
ultravioletas.
Nota:
Utilizam-se raios ultravioletas de comprimento de onda de 253,7
nanómetros.
— Aparelho de esterilização de U.V.
3 — FILTRO DE ALGAS
Um processo simples para impedir a
acumulação dos nitratos, consiste em efectuar mudanças de água
regulares. No entanto, em aquários de água salgada muito
povoados, justifica-se a instalação de filtros de algas que
contribuem para uma autodepuração do
meio, absorvendo sobretudo os nitratos.
Este filtro deve ter uma capacidade nunca
inferior à do aquário e a água deve atravessá-lo lentamente. Uma
parte das algas produzidas deve ser retirada, assim como as
algas mortas.
O ideal será atingir o equilíbrio
biológico verdadeiro, o que só se verifica se a produção de
azoto não ultrapassar o consumo.
— Filtro de algas
MUDANÇA DE ÁGUA
A renovação lenta e contínua da água de um
aquário contribui para a manutenção das características
físico-químicas do meio. O sistema «gota a gota», além de
compensar a evaporação, permite uma certa renovação da água,
evitando que se acumulem produtos não degradáveis pêlos filtros,
com a vantagem de não provocar variações bruscas no meio
aquático, o que acontece com substituição de um grande volume de
água. A existência de um «trop-plein», simultaneamente com o
sistema «gota a gota», permite manter o nível de água e eliminar
a película que geralmente se forma à superfície do aquário e que
dificulta a oxigenação.
MONTAGEM E MANUTENÇÃO DO
AQUÁRIO
MONTAGEM DO AQUÁRIO
Começa-se por colocar o aquário num
suporte plano, sobre uma placa de esferovite. Depois instalam-se
os filtros, os tubos de ar com torneiras, as pedras difusoras e
o material filtrante (geralmente utiliza-se areão com 4 a 5 mm
de espessura), que se espalha sobre a placa de fundo.
Seguidamente colocam-se os materiais
decorativos, pedras, troncos, cortiça (água doce), corais,
gorgónias (água salgada), de acordo com o gosto e imaginação de
cada um, tendo contudo o cuidado de não utilizar materiais que
possam pôr em risco a vida dos peixes, pela sua toxicidade.
Todos os materiais devem ser previamente lavados ou mesmo
envelhecidos (troncos).
Nos aquários de água quente instala-se
uma resistência num canto, ao lado de um elevador ou de uma
pedra difusora, para favorecer a circulação da água.
—Aquário
Pode-se então encher o aquário com
água e ligar os filtros, as pedras difusoras e o termóstato.
Logo que a água atinja a temperatura desejada, procede-se à
introdução das plantas. Algumas delas necessitam de um pouco de
terra (turfa e argila) para se desenvolverem. Nestes casos
podemos plantá-las em pequenos vasos que se colocam no fundo do
aquário, cobertos com areão.
— Aquário com pequenos vasos de plantas
O aquário deve ficar algum tempo em
funcionamento, antes da introdução dos peixes. Estes, por
precaução, devem ser introduzidos gradualmente, ou seja, poucos
de cada vez, pois o filtro biológico forma-se muito lentamente.
Aconselha-se começar o povoamento do aquário com um ou dois
peixes, evitar o excesso de alimentação e fazer análises
químicas diárias da água durante o primeiro mês, em especial da
amónia e dos nitritos. Se estes parâmetros se mantiverem
inferiores a 0,1 mg/l pode-se continuar o povoamento.
E conveniente escolher espécies
compatíveis e, se possível, peixes e plantas provenientes da
mesma zona geográfica (aquários regionais), uma vez que exigem a
mesma qualidade e temperatura da água e o aquário assume assim
uma função didáctica.
Quanto ao número de peixes, é muito
difícil estabelecer valores fixos, pois é variável conforme as
espécies e a área de filtração; por princípio, a cada 1 cm de
peixe deve corresponder 1 litro de água.
Convém tirar o melhor partido do
espaço, seleccionando peixes que vivam em níveis diferentes do
aquário. Alguns peixes vivem à superfície, onde procuram a
comida, outros circulam no aquário e outros ainda permanecem no
fundo. Estes últimos são muito importantes porque comemos restos
de comida.
— Peixes de água doce que vivem em profundidades diferentes
MANUTENÇÃO
Um aquário equilibrado não necessita,
geralmente, de grande manutenção, a não ser a limpeza dos vidros
para remoção das algas e a aspiração do fundo para retirar os
restos de comida e os dejectos que aí se depositam.
— Raspador para remover as algas
— Íman
A limpeza semanal do fundo,
acompanhada por uma mudança de um quarto da água, ajuda a manter
o aquário em boas condições de higiene. A água a introduzir
deverá ter as mesmas características que a já existente no
aquário (pH, dureza, salinidade).
Para limpar o fundo utiliza-se um
sifão que se faz com um tubo de plástico ou de borracha.
Primeiro remove-se o areão com a mão e depois com uma pequena
mangueira de 1 cm de diâmetro, faz-se a sifonagem dos detritos,
evitando no entanto aspirar o areão. Se isto acontecer
poder-se-á lavar num balde e depois deita-se novamente no
aquário.
— Sifão
Textos e imagens retiradas do livro:
"Manual de Aquariofilia" Edição: Câmara Municipal de Oeiras
e Aquário Vasco da Gama |